Carta do dia 22 - carta 0

Uma carta ao meu eu futuro

7/22/20252 min read

Carta do Dia 22 - carta 0

Nos Bastidores do Sonho

O que são as férias, afinal?
E qual a diferença entre ser um viajante... e um habitante?

Talvez a resposta esteja no caminho.
Talvez a resposta seja o caminho.

Desde pequeno, vivi nos bastidores do sonho alheio.
Nasci em um bairro chamado Água Branca, o nome já parecia presságio. Era ali que eu dizia controlar o vento. Acreditava que podia ensinar isso aos meus amigos. Hoje entendo: o vento sempre foi minha mente tentando encontrar direção.
Dormir, para mim, era liberdade.
Era onde eu podia ser sem julgamento.
Doente, criança, desajeitado, eu voava. Criava mundos. Controlava o ar.
Sonhava.

Mais tarde, a vida me levou para Caldas Novas , cidade de águas termais e respiros coletivos. Fiz minha faculdade de Gastronomia ali. Trabalhei no Hot Park, onde o Brasil todo vai descansar. Era como se eu aquecesse a água dos outros, mas nunca mergulhasse.

Depois vieram os cruzeiros.
E junto com eles, o desejo constante de estar em todos os lugares e ao mesmo tempo, em nenhum.
Me tornei mestre em vestir máscaras.
Sorria, entregava, servia. Mas por dentro, doía.
Me sentia o patinho feio. Quebrado. Com medo do espelho.
Até que um dia, dançando forró, uma amiga acidentalmente lesionou meu joelho. O rompimento parcial do ligamento cruzado parecia apenas mais um detalhe em uma vida que já tinha se acostumado à dor.

Voltei ao Brasil.
Recuperei o corpo. Fiz extras. Trabalhei em buffet.
E assim cheguei a um dos lugares mais incríveis que já atuei: o restaurante Jua.
Ali aprendi, ensinei, me entreguei.
Mas, de novo, algo gritava: “esse sonho ainda não é meu.”

A criança do vento voltava sempre que eu sentia que não podia respirar.
E na cozinha, no calor, entre fumaças e pressões, tudo parecia sufocar.
Fui então para a Irlanda, um antigo plano com meu amigo Lucas que só agora se concretizava.

Dublin me quebrou.
Me reconstruiu.
Me mostrou quatro homens, quatro espelhos. Me dividiu. Me forçou a reunir.

E então veio Segóvia.
Com seus aquedutos ancestrais, com sua catedral que avisa de longe: “Lembre-se de quem você é.”
Ali conheci o tarô. Conheci terapeutas que viram minha alma.
Comecei a entender os elementos. A integrar Terra, Ar, Fogo, Água.
Comecei a lembrar do Éter. Da luz.

E agora estou em Cala Sant Vicenç.
Mais um lugar onde as pessoas vêm para viver seus melhores momentos.
E, pela primeira vez, eu também.
Não como figurante.
Mas como protagonista do meu sonho.

A carta da Temperança me visita nesse dia 22.

Ela não traz só equilíbrio.
Ela traz integração.
Ela é a cozinheira da alma, que dosa luz e sombra, que sabe o tempo do fogo, que conhece os ingredientes do espírito.
Ela me lembra que não estou mais perdido.
E que agora, o Louco começa a criar o próprio palco.

Essa é uma carta aberta a mim.
E a todos os que, como eu, viveram tempo demais no bastidor da própria vida.
Hoje, decido caminhar com todos os elementos comigo.
Com humildade e coragem, sigo criando a minha Estrela de Cinco Pontas.

Gratidão por ler.
Nos vemos no próximo dia 22.

Echo


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