Com um pouco de dor se terminou mais um dia

.Passo a Passo no Caminho de Santiago – De Grado a Salas

5/10/20252 min read

O dia começou com um café da manhã compartilhado no albergue municipal de Grado. É curioso como as pessoas, mesmo vindas de partes tão distantes do mundo, se conectam de forma tão natural. Sempre há um sorriso, um gesto simples e, por vezes, até uma pequena história dividida entre um gole de café e o aroma de pão fresco.

No meio desse cenário, existe uma alma que dá vida ao albergue: Helena, uma senhora dos Estados Unidos com seus 60 anos e um brilho nos olhos de quem já percorreu o Caminho de Santiago cinco vezes. Agora, dedica um mês da sua vida para ajudar os peregrinos a encontrarem seus próprios caminhos. A sua gargalhada tímida, suas histórias e o carinho em cada palavra fazem daquele lugar um pouco mais especial.

Ao lado dela, o hosteleiro espanhol que cuida do albergue com a mesma dedicação. Juntos, eles são como duas luzes guiando os que passam por lá. Pela manhã, agradeci a eles com o coração cheio e parti rumo a Salas, um trajeto de 23,3 km que, apesar de menor do que no dia anterior, se mostrou um desafio para o corpo ainda se acostumando com o ritmo das caminhadas.

Subidas e descidas, como a própria vida.
A caminhada foi intensa, mas cheia de paisagens que parecem saídas de um sonho. Vilas pequenas, estradas de terra e o silêncio profundo que só é interrompido pelo vento e pelos próprios passos. Apesar de ter concluído o percurso em cinco horas, cheguei ao albergue com dores que mal me deixavam andar. Fui até a farmácia buscar um remédio para aliviar a dor, e nessa pequena jornada encontrei um senhor que vendia castanhas. Acabei comprando um pacotinho de pistache — meu favorito. Conversamos sobre a procedência dos produtos e, ao meu lado, uma senhora da Galícia me respondeu num espanhol tão carregado que mais parecia português. Quando comentei isso, ela riu com uma gargalhada sincera.

Chegada em Salas
O albergue em Salas é pequeno, mas muito acolhedor. E quem cuida de tudo com carinho é a Mónica, uma alma generosa e atenta aos detalhes. Ao me ver mancando, logo se ofereceu para colocar minhas roupas na secadora. Ela insistiu, mesmo quando tentei recusar, e foi impossível não aceitar aquele gesto de cuidado. São essas pequenas gentilezas que fazem o Caminho mais leve.

Mais tarde, quando acordei do meu descanso, encontrei um senhor — cujo nome infelizmente já me escapou, algo comum por aqui, confesso — e sua neta. Eles faziam o Caminho juntos, e ela, com seus 21 anos, é a pessoa mais rápida que já vi andar. Um trajeto de cinco horas foi completado em três. Na mesa, também estavam Marisol, uma mexicana que mora na Irlanda, e Luizma, ou Luiz Manuel, para os menos íntimos.

O jantar foi simples, mas repleto de histórias.
Cada um compartilhou um pouco de si, do que o Caminho representava, dos desafios que encontraram e dos sonhos que os trouxeram até ali. São nesses momentos, entre um prato e outro, que a gente percebe: o Caminho de Santiago é muito mais do que uma peregrinação. É um espelho da vida, onde cada pessoa carrega sua própria jornada, mas compartilha a estrada com quem cruza seu caminho.

Por aqui, todos os caminhos levam a Santiago de Compostela.
E eu tenho certeza que você também vai chegar ao seu.

Gratidão,
Pedro Ivo